(Professor Jônatas Frazão)
Desde
que aumentaram os comentários sobre rompimento político entre Ricardo Coutinho
e Cássio Cunha Lima, um assunto que se comenta bastante em toda a Paraíba tem
sido os reflexos do ‘racha’ na pré-candidatura de Veneziano ao Governo do
Estado. O rompimento ajuda ou prejudica as pretensões do Cabeludo?
A
resposta é simples: ajuda. E vou explicar.
Cássio
e Ricardo iniciaram uma aliança política em 2010 numa união do útil ao
agradável. De um lado, Cássio querendo evitar que o PMDB (leia-se José
Maranhão) permanecesse no poder, mas impedido de se candidatar a governador. Do
outro, Ricardo Coutinho, prefeito de João Pessoa bem avaliado, mas um mero
desconhecido na Paraíba, sem carisma e sem prestígio político estadual.
Ricardo
caiu no ‘canto da sereia’ de acreditar que havia feito uma aliança, como ele
próprio dizia nas entrevistas, “em 2010, para 2014 e com vistas a 2018”. Para
isso, tratou de cumprir à risca a máxima de que “quem ajuda a eleger tem que
ajudar a governar”. Garantiu espaços dos aliados de seu próprio partido, o PSB,
mas preencheu grande parte dos cargos com os aliados conquistados através de
Cássio.
O
grupo se tornou forte e coeso, até começar a operação ‘desmanche’. A ideia era
a de que fosse criado um clima pesado no grupo, ao ponto de a continuidade da
aliança ficar comprometida. E assim foi feito. O estágio atual mostra que a
corda esticou tanto que, mesmo com tantos bombeiros (detentores de cargos e
benesses no governo que perdem com a separação e continuariam faturando com a manutenção
da aliança) que o fogo não se apaga.
O
que Cássio não esperava era que, com o rompimento, muitos de seus fiéis
escudeiros não o seguissem. É, amigo, o poder da caneta fala mais alto para
muita gente. E a expectativa de poder (ou de permanecer nele) tem um peso muito
forte nas decisões. Como resultado disso tudo, temos hoje o seguinte cenário:
Ricardo
tem ao seu lado os seus próprios seguidores (aliados do PSB e de outros
partidos mais próximos) e muitos dos que lhe foram apresentados pro Cássio, mas
acabaram por ‘se apaixonar’ – seja por qualquer motivo – ao longo dos três anos
e dois meses de convivência, a exemplo de Rômulo Gouveia, Ricardo Barbosa,
Adriano Galdino, Manoel Ludgério e outros.
Outro
detalhe: desde que o ‘moído’ do racha se tornou mais forte, Ricardo decidiu que
seu alvo era Campina Grande, cidade que tem, potencialmente, a tendência de
votar em seus filhos. Neste caso, Cássio e Veneziano. Então Ricardo sabe que
quanto mais puder neutralizar a polarização em Campina, melhor para ele. Por
isso garantiu logo a vaga de senador na chapa para Rômulo e tem assediado outras
lideranças de Campina.
Em
recente reunião com parlamentares de Campina Grande no Centro de Convenções da
cidade, Ricardo disse não aos pedidos dos vereadores, alegando que os cargos
eram todos comanados por Cássio e Glória Cunha Lima. Com o rompimento, ele fica
livre para negociá-los com os vereadores e com quem quer que seja. Fui claro?
Perceberam
que a disputa de aliados ocorre dentro do próprio grupo Cássio-Ricardo? Ou
seja: o ‘racha’ divide o grupo, pois a disputa que ocorre hoje é para saber
quem trai Cássio e fica com Ricardo; e quem trai Ricardo e fica com Cássio. É
desta forma mesmo, pois qualquer que seja a decisão de quem fica com quem o
outro se sentirá traído.
Enquanto
isso, Veneziano continua a sua batalha para obter seu lugar ao sol. Batalha que
começou em janeiro de 2013 e que ele vem cumprindo religiosamente e de forma
disciplinada dia após dia, mês após mês.
Ainda
em 2013 o PMDB encomendou uma pesquisa que mostrou um dado interessante: apenas
48% da população paraibana conhecia Veneziano, enquanto que o governador Ricardo
Coutinho era conhecido por 92% dos paraibanos. Um dado absolutamente normal, considerando
que Veneziano era prefeito de Campina Grande e Ricardo Coutinho governador para
223 cidades.
Esta
semana ouvi Veneziano dizer em uma entrevista que a mais recente pesquisa do
PMDB já o colocava como conhecido por 61% dos paraibanos. Falta muito para
chegar onde Ricardo e Cássio estão no grau de conhecimento, mas do jeito que o
Cabeludo está, logo logo todo mundo vai saber quem é ele, na mais distante das
cidades.
Some-se
a isso o fato de Veneziano ser pré-candidato do PMDB, o maior partido da
Paraíba, segundo atestou recentemente o TRE-PB, único partido a ter diretórios
em todos os 223 municípios do Estado, com maior número de prefeitos,
vice-prefeitos, vereadores, filiados e simpatizantes. E ainda outro fator: quem
conhece Veneziano sabe que ele é apaixonado por uma campanha e cresce no
período eleitoral.
Se
tudo ocorrer como vem ocorrendo, teremos uma grande disputa na Paraíba: Ricardo
Coutinho com o poder da caneta; Cássio com o ‘recall’ natural de quem já foi
duas vezes governador e Veneziano como a novidade, o mais jovem e com todo este
potencial que já descrevi. Vai ser realmente uma campanha carregada de emoção.
*professor
aposentado da UFPB. Este comentário também está publicado no meu Facebook
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